Salutogênese: regar o jardim é diferente de combater a praga

Imagine um jardineiro que passa os dias combatendo pragas, aplicando venenos, eliminando o que ameaça.
Mas nunca rega. Nunca aduba. Nunca prepara a terra.
Esse jardim, mesmo livre de pragas, não floresce.

Com o corpo, é a mesma coisa.

Durante décadas, o modelo biomédico centrou-se em diagnosticar, eliminar e controlar o que adoece.
Mas saúde não é ausência de sintomas.
É presença de vitalidade, sentido, desejo, vínculos.

A salutogênese — termo cunhado pelo sociólogo médico Aaron Antonovsky — propõe um deslocamento essencial:
em vez de perguntar “o que causa a doença?”, ela nos convida a perguntar “o que faz a saúde emergir?”

Esse movimento muda tudo.
Muda a escuta. Muda a proposta de cuidado.
Muda a experiência do paciente (no meu caso: “do interagente” ❤️😜).

Nas imersões terapêuticas, não estamos ali apenas para retirar alguém de uma crise.
Trabalhamos para que a pessoa experimente a sensação de saúde de forma ampliada —
pacificando a relação com o corpo, com a história, com os desejos.
Sabemos que ninguém floresce separado dos próprios sonhos.
Assim como uma árvore desconectada de seu propósito deixa de crescer e frutificar,
nós também precisamos de solo fértil, de contexto, de sentido para prosperar.

Saúde não é uma bolha individual.
É relação. É ambiente.
E quanto mais nos engajamos para que esse entorno também floresça, mais profundamente podemos viver bem.

Por isso, nosso trabalho é oferecer um espaço onde o cuidado possa ser vivido na pele.
E onde o bem-estar deixe marcas — na memória, nos sentidos, no cotidiano.

Porque ninguém sustenta o que não gosta de sentir. Na verdade, ninguém se lembra do que não sente.
E ninguém se compromete com algo que não teve chance de viver.

Não se trata de ensinar autocuidado.
Mas de permitir que ele seja sentido, vivido.

Na comida.
No silêncio.
Na qualidade do sono e no prazer de despertar.
No prazer do corpo descansado.
Na conversa honesta.
Na alegria que nasce quando alguém se sente, de fato, acompanhado, visto.

Esse é o solo onde a saúde pode florescer.
E é por isso que regamos (de diversas formas).
Todos os dias.

E é por amor a isso que eu trabalho.
Grande abraço — e até breve! 🖋️
Paula Lara 

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